quinta-feira, 18 de junho de 2009

Acervo Notícia


Veja trechos da matéria "O cafeicultor e o modernista" publicada no caderno (+) Livros - Jornal Folha de São Paulo, 14 de junho.


Cartas entre Mário de Andrade e Pio Lourenço Corrêa revelam as opiniões e o processo criativo do autor de "Macunaíma"

...mais uma vez Ana Luisa Escorel, da Ouro Sobre Azul, brinda-nos com uma joia editorial: a correspondência entre Mário de Andrade e Pio Lourenço Corrêa. Traz introdução de Gilda de Mello e Souza [1919-2005] -a quem devemos a concepção do projeto, para o qual há tempos vinha colhendo material- e nota biográfica assinada por Antonio Candido. Ambos privaram da intimidade tanto de Mário quanto de Pio, e por isso o livro não poderia ter melhores títulos intelectuais. Como se não bastasse, a parte iconográfica é extraordinária, o que é de praxe nas realizações dessa editora duplicada de designer. Deleitamo-nos com o luxo do papel cuchê fosco, da capa cartonada e das minuciosas notas de rodapé. A apresentação material, que concorre para tornar o volume um item bibliográfico incontornável, muito deve à munificência do Sesc...

... Conhecida é a casa da chácara da Sapucaia, hoje no perímetro urbano de Araraquara (SP), residência de Pio Corrêa... foi na chácara que Mário escreveu "Macunaíma"... adquirida do herdeiro por um casal de professores da faculdade de filosofia local (Unesp), Waldemar e Heleieth Saffioti, seria depois doada à própria faculdade, com o requisito de que fosse transformada numa casa de cultura... As circunstâncias dessa peculiar amizade têm antecedentes... S eparados pelo intervalo de uma geração... Discutiam muito, disputavam fidelidades: Mário era modernista, Pio era tradicionalista. Por isso detestou "Macunaíma", que para ele era vazado em péssimo português, além de lhe soar sem pé nem cabeça. Mas ambos conseguiram chegar a uma trégua devido a "Amar, Verbo Intransitivo", quando Pio se divertiu com o caso das funções paradidáticas da governanta alemã -mas só, paradoxalmente, depois que leu a tradução para o inglês...


...Mário costumava passar temporadas na chácara e, se não podia deslocar-se até lá, dava notícia de sua nostalgia dos recantos, dos odores, dos sabores... Graças à opulência iconográfica, vemos Pio sempre de cenho enfarruscado, o que orna com seu temperamento autoritário, amiúde temperado pelo senso de humor que vem à tona em sua pena... Mário também aparece, em fotos de sua viagem à Amazônia, por exemplo. Sobre o que versavam pessoas tão diversas? Alguns temas eram preferenciais, e em primeiro lugar a filologia. Mas também assuntos de folclore, que interessavam a Mário, de bichos e de plantas, das pescarias e das caçadas de macuco de Pio.... A troca epistolar entre ambos é discreta e pouco dada a efusões, mas nessa fase Mário fala um pouco mais de si.Fora obrigado a deixar o Departamento de Cultura de SP, o que o fez desiludir-se não só da política, mas da possibilidade de qualquer intelectual ocupar um cargo público, abrindo mão de sua privacidade e da produção pessoal que ela lhe faculta, tão forte no seu caso... Seu equilíbrio emocional viu-se ameaçado, e isso afetaria sua saúde. Declarou que sempre fora feliz e mesmo um militante da felicidade, mas por esse tempo viu tudo negro e até pensou em suicídio.Logo faria no Rio aquela famosa conferência desencantada, onde se entregou a feroz autocrítica, que se estendeu aos companheiros de lutas modernistas. Embora afinal conseguisse voltar ao reduto do lar em São Paulo, morreria inesperadamente.Por tudo isso, é inestimável a revelação de mais este conjunto completo e coerente de um epistolário que cobre perto de 30 anos, de 1917 a 1945, e vai até os últimos dias de Mário.


WALNICE NOGUEIRA GALVÃO é professora de teoria literária na USP. Recebeu o Prêmio Mário de Andrade da Biblioteca Nacional por "Mínima Mímica" (Companhia das Letras).


PIO E MÁRIO Autores: Mário de Andrade e Pio Lourenço Corrêa Editoras: Sesc SP/Ouro sobre Azul (tel. 0/xx/ 21/ 2286-4874) Quanto: R$ 96 (424 págs.)


Temos este livro no nosso acervo, consulte sobre a disponibilidade.

Puxa a ficha aí...


Murilo Rubião (1916 - 1991)
Escritor mineiro foi precursor do realismo mágico no Brasil. Apesar de nos lembrarmos de Gabriel Garcia Márquez quando o assunto é o gênero, Murilo Rubião foi (e é) um nome importante pra literatura brasileira. Todos os seus livros tem em algum momento relação com as parábolas, citações e trechos bíblicos. O conto mais aclamado é "O Ex-Mágico Da Taberna Minhota" nome que dá título ao livro de contos publicado em 1947, narra a história de um ser que quando se dá conta de sua própria existência já é um homem feito e inserido num contexto capitalista e surreal. Cético ou não acredita-se que a relação do traço estilístico com os textos bíblicos se deve ao fato de Murilo Rubião considerar a contradição lógica dos acontecimentos sobrenaturais e fantasiosos da bíblia justificarem o fatos cotidianos e agruras da existência humana.

Segue o começo do conto referido e a lista das obras publicadas.
O ex-mágico (1947)
A estrela vermelha (1953)
Os dragões e outros contos (1965)
O pirotécnico Zacarias (1974)
O convidado (1974)
A casa do girassol vermelho (1978)
O homem do boné cinzento e outras histórias (1990)
Contos reunidos (2005)



O ex-mágico da Taberna Minhota
Murilo Rubião
"Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me; porque eu sou desvalido e pobre. (Salmos. LXXXV, I)"


Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.

domingo, 14 de junho de 2009

Hoje, mas lá atrás.


Em 14 de junho de 1986 morria Jorge Luis Borges Acevedo. Borges nasceu em Buenos Aires no dia 24 de agoto de 1899. Escritor, poeta, tradutor, crítico e ensaísta argentino mundialmente conhecido por seus contos e histórias curtas. Segue abaixo um de seus poemas:

Uma oração
Jorge Luis Borges
Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.

ESQUISIIIIIIIIIIIIIITO!

Conheça algumas manias de escritores geniais :

Wolfgang von Goethe escrevia em pé. Ele mantinha em sua casa uma escrivaninha alta.
Pedro Nava parafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém o tirasse do lugar.
Aluísio de Azevedo tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e pintar, sobre papelão, as personagens principais mantendo-as em sua mesa de trabalho, enquanto escrevia.
Carlos Drummond de Andrade foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), depois de um desentendimento com o professor de português. Imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e tecidos. “Se não fizer isso, saio matando gente pela rua”. Estraçalhou uma camisa nova em folha do neto. “Experimentei, ficou apertada, achei que tinha comprado o número errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra igualzinha.”
Clarice Lispector era solitária e tinha crises de insônia. Ligava para os amigos e dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, era comum ser convidada para jantar e ir embora antes de a comida ser servida.

Isola!!!

Tem!


Na primeira coluna da estante da biblioteca colocamos em destaque os livros recém-adirquiridos. A seleçao das obras obedece alguns critérios como, indicação de leitores, sugestões de revistas diversas, dos cadernos de cultura dos jornais mais lidos, dos sites e blogs de escritores e amantes de literatura. Veja a indicação desta semana:


Leite Derramado - Chico Buarque
Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A imagem de capa do livro foi desenvolvida em duas versões - nas cores branca e laranja.
Empréstimo:
10 dias (até dois livros)
renovação por telefone 44691267 ou e-mail biblioteca@santoandre.sescsp.org.br